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Da Natureza e do Homem | Viver em Harmonia

 

A Natureza“Abandonámos a natureza e queremos dar-lhe lições, a ela que nos conduzia tão felizmente e tão seguramente.”

Michel de Montaigne

A Natureza

Será a nossa sociedade verdadeiramente equilibrada e humana?

A crise ambiental é um bom ponto de partida para compreendermos a relação do Homem consigo próprio, ou seja, com a Natureza. Em prol de uma produção desenfreada, para suprir necessidades de consumo, muitas vezes supérfluas, o ser humano confere à natureza o status de mero meio de obtenção de lucro e de recursos naturais. Esta relação exploratória da natureza, ao longo dos séculos, foi consumindo vorazmente os recursos naturais, até que estes começaram a dar sinais de que não eram tão infinitos quanto se pensava…

Numa sociedade em que o “ter” se sobrepõe cada vez mais ao “ser” no indivíduo – e onde parece ter-se chegado ao limite de já nem fazer falta ter, bastando apenas parecer – é importante questionar a dimensão integral do ser humano e se este rumo estará a contribuir para a sua felicidade e bem-estar. Já dizia Montaigne: “Abandonámos a natureza e queremos dar-lhe lições, a ela que nos conduzia tão felizmente e tão seguramente.” Na ilusão de que ser feliz significa dizer “eu sou o melhor”, “eu sou o primeiro”, “eu sou isto”, “eu tenho aquilo”, o homem perdeu o respeito por si, pelos seus limites e pela natureza. Esqueceu-se de quem é e da sua origem. É urgente que recupere a consciência e se concilie, sobretudo, consigo, porque o homem não pode viver desligado da sua essência. Sempre que o fizer, os sinais de desequilíbrio surgirão para o lembrar que não pode desrespeitar as leis da natureza – nunca houve tanto stress, isolamento, depressões e mal-estar.

Planeta doente?

Para a Medicina Tradicional Chinesa todas as emoções são reações a acontecimentos. No entanto, a partir do momento em que se tornam constantes, passam a ser consideradas prejudiciais e causadoras de doenças. Neste momento o planeta Terra está gravemente doente. Cientistas e políticos debruçam-se sobre a doença da Terra e até sobre os tratamentos urgentes a aplicar para evitar o pior, mas não é o planeta Terra que pede socorro, senão cada um de nós… É verdade que a crise agride, desequilibra, fragiliza, mas pode também ser um fator de evolução ou representar um novo começo. Quando escrita em chinês, a palavra “crise” é composta por dois caracteres – um representa perigo e o outro representa oportunidade. O próprio indivíduo é construído a partir de uma série de crises, das quais o nascimento é a primeira e a mais espetacular. Uma grande provação obrigará tanto mais à mudança quanto mais dolorosa for: o ser descobrirá nela uma dimensão nova ou regredirá sem recurso. A vida nos campos de concentração conduziu a inúmeros atos de heroísmo e de sacrifício, mas também conduziu aos atos mais cobardes e baixos. A situação de crise em que nos encontramos, atualmente, tem o mérito de requerer uma tomada de consciência generalizada. É ao nível da evolução das aspirações, das mentalidades das atitudes e dos comportamentos que se escortinam desde já os sinais de profunda mudança. Hoje, todos os futuros são possíveis, nem sequer é impossível que consigamos instituir uma sociedade equilibrada e humana.

Como viver em harmonia?

Segundo a filosofia oriental, o primeiro passo para viver em harmonia e equilíbrio com o mundo é encontrar o próprio equilíbrio e harmonia. Os chineses acreditam na existência de uma realidade última que é subjacente e unifica tudo o que observamos denominada “TAO”. O mundo é visto como uma mudança contínua, onde existem padrões constantes. O sábio reconhece esses padrões e dirige as suas ações de acordo com eles, tornando-se “uno com o TAO”, vivendo em harmonia com a natureza e obtendo bons resultados em tudo o que realiza. A principal caraterística do TAO é a natureza cíclica do seu movimento e a mudança incessante. Do TAO, surge o Yin e Yang, os dois princípios da dualidade como branco e preto, dia e noite, masculino e feminino. O TAO manifesta-se pela inter-relação dinâmica dessas duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas. Além desta dinâmica, os antigos filósofos observaram que a vida e os fenómenos que nos rodeiam eram compostos por ciclos. Concluíram que em cada um destes ciclos, existiam cinco fases distintas a que chamaram cinco elementos ou movimentos: madeira, fogo, terra, metal e água. São precisamente estes os conceitos-base da Medicina Tradicional Chinesa, uma das mais antigas do mundo, apesar de só ter começado a ser divulgada, a partir dos anos 70.

Medicina Tradicional Chinesa

A Medicina Tradicional Chinesa acredita que o corpo reflete o universo (macrocosmo) e é um em miniatura (microcosmo). Entende que os órgãos, embora tenham funções diferentes, dependem uns dos outros. O conjunto é uma unidade e não existe harmonia ou felicidade das partes em separado. Tratando o organismo como um todo, a sua função é precisamente garantir que existe um equilíbrio entre o indivíduo e o meio, entre o corpo e a mente, relembrando ao organismo como se reequilibrar, através de uma intervenção mínima, que traz associada uma sensação de bem-estar geral. Recentemente tem-se assistido a um crescente interesse por parte da comunidade científica, e tem sido comprovado que a Acupuntura apresenta resultados efetivos perante várias patologias. Quando prestamos atenção aos sinais, reconhecemos os nossos limites e aprendemos a respeitar a nossa própria natureza. E isso, sim, traz saúde e felicidade. E a vida saudável da Natureza depende, em primeiro lugar, da vida saudável de cada um de nós.

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